20 fevereiro 2021

Ignotus

Abgar Renault

Eu não sei quem Tu és. Mas sei que Tu existes,
e sei que és Tu que acendes as estrelas lá no Alto,
e o lume, às vezes, da alegria na pobreza dos meus olhos tristes.

Eu não Te vejo, eu não Te falo, senão no silêncio secular
das noites insones e profundas, em que meu corpo se apaga,
e minha alma é uma chama inquieta a crepitar...

Eu Te quero e Te temo, pávido, esquivo e ansioso... E pela vida inteira,
se Te fujo – olhos sem luz para não ver-Te, ouvidos surdos para não Te ouvir
sinto o Teu esplendor doer na minha tórpida cegueira,

e ouço o rumor augural dos remos do Teu barco, lento e lento
a ferir, com seu ritmo de Absoluto,
a água noturna do meu pensamento...

Fonte: Horta, A. B. 2003. Sob o signo da poesia. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1983.

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