O miolo do sonho e o dente de alho
Zulmira Ribeiro Tavares
Quando percebi que os meus sonhos
não eram os sonhos dos meus sonhos
acordei estremunhada.
Ao verem meu rosto de sombra
Perguntaram:
Foi insônia?
Respondi:
Foi o contrário.
Ontem à noite ao invés de alhos
por temê-los no olfato
(afinal não sou uma rosa?)
decidi comer nuvens.
Conclusão?
Elas incharam.
E os comedores de alhos?
Não veem o barulho que fazem
rindo às bandeiras soltas?
De que se riem? Das sombras?
A que rescendem? Não temem?
Não temeram o seu cheiro: transpiraram.
Não pegaram no sono: o soltaram.
Não perderam a cabeça: a ganharam.
Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª ed. RJ, Aeroplano.
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