Aspectos incomuns da sexualidade humana
Jared Diamond
Entre os aspectos incomuns da sexualidade humana [...] estão a menopausa feminina, o papel dos homens nas sociedades humanas, a privacidade nas relações sexuais, o sexo quase sempre voltado para a diversão em vez de procriação e o aumento do volume dos seios femininos antes mesmo de seu uso para a lactação. [...]
Se o seu cachorro tivesse o seu cérebro e pudesse falar, e se você lhe perguntasse o que ele pensa da sua vida sexual, talvez se surpreendesse com a resposta. Seria mais ou menos assim:
Esses seres humanos nojentos fazem sexo qualquer dia do mês! Bárbara propõe fazer sexo mesmo quando sabe que não está fértil – como nos dias logo em seguida à menstruação. João está sempre querendo fazer sexo, sem se preocupar se seus esforços resultarão num bebê ou não. Mas, se você quer saber o que é realmente indecente – Bárbara e João continuaram fazendo sexo mesmo enquanto ela estava grávida! E sempre que os pais de João vêm passar uns dias aqui eu ouço os dois fazendo sexo, embora a mãe de João já tenha entrado há alguns anos nesse negócio que chamam de menopausa. Ela não pode mais ter filhos, mas continua querendo sexo, e o pai de João concorda com ela. Que desperdício! E o mais esquisito de tudo é que Bárbara e João, e os pais dele, fecham as portas dos quartos e fazem sexo às escondidas, em vez de fazer isso diante dos amigos, como qualquer cachorro decente!
Para compreender o seu cachorro, você precisa se libertar de sua perspectiva, baseada nos seres humanos, do que seja um comportamento sexual normal. [...]
Todas essas características da sexualidade humana – parceria sexual duradoura, criação conjunta dos filhos, proximidade da parceria sexual dos outros, sexo privado, ovulação oculta, receptividade feminina prolongada, sexo por divertimento e menopausa feminina – constituem o que nós, seres humanos, admitimos como sexualidade normal. Pode ser encantador, divertido ou desagradável ler sobre os hábitos sexuais de leões-marinhos, ratos marsupiais ou orangotangos, cujas vidas são tão diferentes das nossas. Suas vidas nos parecem bizarras. Mas isso é uma interpretação “especieísta”. Segundo os padrões das outras espécies de mamíferos no mundo, e até pelos padrões dos nossos parentes mais próximos, os grandes macacos (chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos), nós é que somos estranhos.
Fonte: Diamond, Jared. 1999. Por que o sexo é divertido? RJ: Rocco.
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