Entre o apego e a reação contra o estalinismo
Isaac Deutscher
Entretanto, Kruschev, o epígono do estalinismo, foi quase totalmente obscurecido pela imagem popular do campeão e herói da desestalinização. E nisso reside o paradoxo de sua carreira: apesar de seu empenho no estalinismo e a grande participação que teve em seus equívocos, Kruschev teve que assumir uma participação ainda maior em sua destruição. Viu-se dividido entre o seu apego e a sua reação contra o estalinismo, o que em termos pessoais correspondia à sua adoração por Stalin e à sua memória viva da insuportável humilhação sofrida nas mãos deste. E nisso era o representante de toda uma geração de líderes do partido, cujas costas serviram de degraus à ascensão de Stalin e que, este no poder, teve de suportar os chutes e os caprichos do mestre. Desamparados enquanto Stalin era vivo, vingaram-se no fantasma. Conseguiram, entretanto, condições de satisfazer sua ânsia emocional de vingança somente porque interesses políticos mais amplos – as necessidades da nação – requeriam a desestalinização.
Fonte: Deutscher, I. 1969 [1964-66]. A falência do krushevismo. In: Miliband, R. & Saville, J., orgs. Problemas e perspectivas do socialismo. RJ, Zahar. Trecho de artigo originalmente publicado em 1965.
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