10 abril 2022

Como os animais conversam

William J. Long

Passei horas em diversos covis e pude constatar o que me pareceu uma excelente disciplina. Mas nunca ouvi uma raposa fêmea emitir rosnados ou gritos de alerta de qualquer espécie. Por horas a fio os filhotes brincam animadamente ao sol da tarde, alguns perseguindo ratos ou gafanhotos imaginários, outros desafiando os companheiros a lutas ou caçadas simuladas. E o traço mais curioso do exercício, depois que nos habituamos a essas fascinantes criaturinhas, é que a velha fêmea, postada num sítio de onde pode supervisionar as brincadeiras e as vizinhanças, parecer ter sempre a família sob controle, embora som algum seja emitido. Vez por outra, quando um filhote se afasta demais do covil, a fêmea ergue a cabeça e olha-o fixamente; esse olhar, de alguma forma, tem o mesmo efeito que o chamado silencioso da loba: paralisa o filhote como se lhe enviasse um grito ou um mensageiro. Se isso acontecesse apenas uma vez, diríamos que se trata de mera coincidência; mas acontece repetidamente e do mesmo modo intrigante. O filhote estaca de súbito, volta-se como se tivesse recebido uma ordem, repara no olhar da fêmea e retorna como um cão treinado ao escutar o assobio.

Fonte: Sheldrake, R. 1999. Sete experimentos que podem mudar o mundo. SP, Cultrix.

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