25 março 2022

As taxas de crescimento estão a cair, mas a suspensão das medidas de proteção pode ser um tiro no pé

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 14 e 20/3, os valores ficaram em 0,1238% (casos) e 0,0463% (mortes). Ambos caíram em relação à semana anterior. É uma boa notícia, sem dúvida. A questão que se impõe é: Trata-se de (mais uma) queda episódica e passageira ou estaríamos de fato a descer a ladeira da crise? A resposta não é óbvia nem fácil. Afinal, a suspensão precipitada das medidas de proteção pode alterar tudo de novo. Isso porque, mesmo que a campanha de vacinação siga inalterada, a suspensão só favorece a circulação, a proliferação e a evolução do vírus.

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1. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (20/3), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 13.218 casos e 103 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 29.630.484 casos e 657.205 mortes.

Na semana encerrada ontem (14-20/3), foram registrados 261.708 novos casos – uma queda de 18% em relação à semana anterior (6-13/3: 319.763). É a menor soma semanal desde a primeira semana de janeiro (3-9/1).

Entre 14 e 20/3, infelizmente, foram registradas 2.127 mortes – uma queda de 28% em relação ao que foi anotado na semana anterior (6-13/3: 2.935). É a menor soma semanal desde a terceira semana de janeiro (17-23/1).

2. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima ajudam a descrever a situação. Todavia, para monitorar o ritmo e o rumo da pandemia [1], sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Ambas tornaram a cair (ver a figura que acompanha este artigo).

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,1565% (7-13/3) para 0,1238% (14-20/3) – é o menor valor desde a última semana de dezembro (27/12-2/1) [2, 3].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,0642% (7-13/3) para 0,0463% (14-20/3) – é o menor valor desde a segunda semana de janeiro (10-16/1).

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 20/3/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.

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3. CODA.

As médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) tornaram a cair (ver a figura que acompanha este artigo).

É uma boa notícia, sem dúvida [4]. A questão que se impõe é: Trata-se de (mais uma) queda episódica e passageira ou estaríamos de fato a descer a ladeira da crise?

A resposta não é óbvia nem fácil. Afinal, a suspensão precipitada das medidas de proteção pode alterar tudo de novo. Isso porque, mesmo que a campanha de vacinação siga inalterada, a suspensão só favorece a circulação, a proliferação e a evolução do vírus.

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[2] Entre 27/12/2021 e 20/3/2022 (para as semanas anteriores, ver aqui), as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1), 0,7576% (24-30/1), 0,6544% (31/1-6/2), 0,5022% (7-13/2), 0,3744% (14-20/2), 0,2812% (21-27/2), 0,1389% (28/2-6/3), 0,1565% (7-13/3) e 0,1238% (14-20/3); e (2) mortes: 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1), 0,0859% (24-30/1), 0,1212% (31/1-6/2), 0,1388% (7-13/2), 0,1320% (14-20/2), 0,1071% (21-27/2), 0,0661% (28/2-6/3), 0,0642% (7-13/3) e 0,0463% (14-20/3).

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver referências citadas na nota 1.

[4] Cabe ressaltar que o ritmo da vacinação caiu muito ao longo dos últimos meses. Levamos 34 dias (24/8-27/9) para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 21/3, este percentual está ainda em 84%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

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