“Todos abaixo de mim, eu acima de deus” – diz o rei canibal
F. Ponce de León
Em um arquipélago muito, muito distante vivem dois povos, os canibais e os esquálidos.
Os canibais não cultivam a terra. Vivem da caça e, principalmente, da pilhagem. Têm noções de metalurgia. Sabem confeccionar lanças, flechas e outros artefatos. Usam as armas que fabricam para caçar, mas principalmente para atacar e matar os vizinhos, de quem pilham os víveres.
Promovem conflitos periódicos. Matam sem piedade, mas sempre levam consigo alguns sobreviventes, sobretudo mulheres e crianças. Os sobreviventes se tornam escravos. Fazem as tarefas duras do dia a dia. As mulheres também são usadas para fins reprodutivos.
Os canibais têm uma forma própria de religião. Adoram uma divindade guerreira. Os sacerdotes ensinam que, entre todos os povos do mundo, eles constituem o que há de melhor. São os escolhidos e foram abençoados. Estão no topo. E o mundo inteiro um dia se curvará a eles.
Mas o mundo não lhes será dado como um presente que se recebe em tempos de paz. Não. Será uma conquista, fruto da maior de todas as pilhagens. Haverá guerra. Jorrará sangue.
Chegará então o dia em que os canibais instituirão as leis. E a vontade deles, enfim, cairá como uma espada sobre a cabeça de recalcitrantes e ignaros.
Nessa cruzada santa, tão aguardada, os canibais serão liderados por um rei megalomaníaco. Um líder sem freios na língua. Um líder que já grita a plenos pulmões: “Todos abaixo de mim, eu acima de deus”.
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