Historiografia do clima
Emmanuel Le Roy Ladurie
Os métodos empregados na história do clima conheceram, nesses últimos anos, desenvolvimentos significativos e de grande interesse. Antes de expô-los, começarei, entretanto, por recordar algumas das diferentes técnicas, as mais conhecidas, da historiografia do clima aplicadas no último milênio:
1. No que concerne ao fim deste último milênio (os dois últimos séculos), o historiador do clima obrigou-se a recolher, testar, tabular e publicar... única e simplesmente as séries meteorológicas. Desde o século XVIII, ou desde o início do XIX, elas são, com efeito, muito numerosas. À guisa de modelo, pode-se nomear as séries de temperaturas publicadas por Gordon Manley e pelos pesquisadores holandeses (na Inglaterra e nos Países Baixos) para os três últimos séculos. As séries termométricas provenientes de regiões vizinhas apresentam a vantagem de poderem ser correlacionadas mutuamente: pode-se, pois, uma vez encontradas e exumadas novas séries, testá-las por correlação, assegurando-se, assim, de sua fidedignidade. Em seguida, tendo-se balizado o terreno, detectam-se, graças a elas, ao nível regional, nacional, ou mesmo europeu, flutuações momentâneas para o calor ou o frio, as quais podem ser de amplitude decenal, interdecenal ou secular. Não se deveria esquecer tampouco, em vista das pesquisas futuras, que existem também (além dos resumos termométricos) séries antigas de observações pluviométricas ou barométricas relativas ao século XIX, e até mesmo XVIII. Frequentemente menos fidedignas que os resumos termométricos, possuem mesmo assim um valor essencial para definir os tipos de tempo e as situações atmosféricas do passado. Numerosos e preciosos dossiês desta espécie dormem ainda hoje nos arquivos dos observatórios, das academias de medicina ou de províncias, e das sociedades científicas. [...]
3. A fenologia, ou o estudo das datas anuais de floração e de frutificação dos vegetais, resume-se, até o presente, num documento quase único: a data das vindimas, registrada nos arquivos, é, com efeito, indicativa, em média, do ‘quente’ ou do ‘fresco’, para o período março-setembro de um determinado ano. Uma vez que essas datas formam série numa localidade, ou num grupo de localidades, esclarecem as flutuações térmicas de um ano a outro, ou de um decênio a outro, mas não até nova ordem, de um século a outro. [...]
Fonte: Le Roy Ladurie, E. 1976. O clima: a história da chuva e do bom tempo. In: J. Le Goff & P. Nora, orgs. História: novos objetos. RJ, Francisco Alves.
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