A Petrobras deveria temperar o seu pragmatismo com um pouco de ciência
F. Ponce de León.
1.
A desmilinguida imprensa brasileira, quase toda ela bancada pelo crime organizado (leia-se: bancos e casas de aposta em geral), está desde ontem (18/5) a divulgar matérias (leia-se: comunicados da assessoria de imprensa dos graúdos envolvidos) a respeito de um imbróglio envolvendo a maior empresa do país (Petrobras) e um dos menores orçamentos do governo federal (Ibama) (e.g., ver aqui).
2.
É um déjà vous. Trata-se, a rigor, de um imbróglio antigo, datado ao menos dos primórdios da Revolução Científica. Em poucas palavras, trata-se da luta da razão cínica do mundo dos negócios contra o senso crítico do mundo da ciência.
3.
Shell, Exxon, BP, Petrobras et al. As petroleiras. A turma de sempre. E sempre com a mesma ladainha. O mesmo papo furado de outrora: Furamos primeiro, remediamos depois.
4.
Não se engane, prezado leitor: A gravidade é uma lei universal e imperiosa. A gravidade organiza tudo, dos sistemas planetários aos aglomerados de galáxias. A economia é a mais universal e a mais imperiosa das leis humanas. Uma lei que vale para todos. Em qualquer época ou lugar. Vale para o petróleo. Vale para o carvão mineral. Vale para o ouro. Vale para os diamantes. Vale para as mãos dos gorilas. Vale para o chifre dos rinocerontes. Assim como já valeu para o óleo das baleias...
5.
O que mais me impressiona nesses tempos de capitalismo tardio não é a sede insaciável de mais-valia. (Uma mais-valia, diga-se, cada vez mais esgarçada.) Não. O que mais me impressiona é a gaiatice de observadores chapas-brancas, bossa-novistas. Uma gente oportunista que vive ora a cantar platitudes, ora a defender insanidades. Por exemplo, a ideia de que o mercado é onipotente, a tal ponto que sempre encontrará solução para todo e qualquer tipo de demanda. Ou a ideia de que, para chegar ao paraíso, nós antes teremos de passar pelo inferno. Razão pela qual, aliás, em vez de pensar em rotas alternativas, uma parte expressiva da esquerda (brasileira e mundial) não se furta a remar pelo capitalismo e a empurrar a humanidade para o inferno. Está dando certo. Pois é para o inferno que nós estamos indo agora...
6.
O modus operandi da Petrobras é ditado por economistas e engenheiros. Trata-se, portanto, da quintessência do pragmatismo. E o pragmatismo é inimigo do senso crítico e da dúvida criteriosa. Dois dos pilares que fundaram a ciência moderna no século 16.
7.
Assim como as indústrias farmacêuticas e as indústrias do tabaco, as petroleiras não têm dúvidas. Como também não têm argumentos racionais. Petroleiras apenas furam o chão. Em seguida, drenam, processam e vendem o que sai dos furos. “Estamos aqui para atender ao mercado”, como gostam de dizer os capitães de indústria.
8.
Além de pragmáticas, petroleiras são empresas sujas. Em várias sentidos. Na hipótese de começar a funcionar em prol da maioria da população, a Petrobras deveria abandonar a sujeira burra, e deveria abraçar a energia inteligente. (E não estou a me referir aqui apenas e tão somente ao imbróglio desta semana.)
A Petrobras, em suma, deveria temperar o seu pragmatismo com um pouco de ciência.
* * *
1 Comentários:
Temo que o poder do dinheiro vença, novamente, em relação à essa questão. Grupos Financeiros poderosos versus Ambientalistas, uma balança desigual de poder.
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