16 fevereiro 2024

Eu sei cantar o sofrimento: basta

Alphonsus de Guimaraens

Eu sei cantar o sofrimento: basta,
Para cantá-lo bem, já ter sofrido...
Pois a musa que pelo chão se arrasta
Sobe às vezes ao Céu como um balido.

Mas canto a sempre-humana dor. A vasta
Dolência angelical, o almo gemido
Que vem pungir-vos a Alma pura e casta,
Oh! não... Que para tal não fui nascido.

Nem pretendo, Senhora, (fora um sonho)
Dizer toda a agonia que sofrestes
Nos versos que ante vós, humilde, ponho.

Por mais nobre que seja, é sempre tosco,
Tem sempre versos pálidos como estes
O Poeta que quiser chorar convosco.

Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. SP, Ibep. Publicado em livro em 1899, o poema acima corresponde ao último dos sete sonetos que compõem a penúltima (‘Sexta Dor’) das sete partes do livro. ‘Alphonsus de Guimaraens’ é pseudônimo de Afonso Henriques da Costa Guimarães.

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