Epigrama contra Stálin
Óssip Mandelstam
Vivemos surdos à terra sob nossos pés,
A dez passos ninguém escuta nossos discursos.
Somente ouvimos o montanhês do Kremlin,
O criminoso e assassino de camponeses.
Seus dedos são gordos como vermes,
E as palavras, decisivas como chumbo, caem de seus lábios.
Seu bigode de barata fita de soslaio
E brilha o bico de sua bota.
Cercado de uma escória de chefetes dóceis
Diverte-se com as lisonjas desses meios-homens.
Um deles sussurra, o outro mia, choraminga um terceiro.
Ele aponta o dedo e sozinho retumba.
Forja decretos em série como ferraduras,
Uma para a virilha, outra para a fronte, a têmpora e os olhos.
Como morangos, rola na língua as execuções.
Ele gostaria de abraçá-los como grandes amigos da casa.
Fonte: Berman, M. 1986. Tudo que é sólido desmancha no ar. SP, Companhia das Letras. Poema datado de 1933.
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