10 abril 2024

A natureza do paradigma

Margaret Masterman

Visto sociologicamente (em contraposição à sua concepção filosófica) o paradigma é um conjunto de hábitos científicos. Seguindo esses hábitos a solução bem-sucedida de problemas pode continuar; eles tanto são intelectuais, verbais, comportamentais, quanto mecânicos e tecnológicos, pertencendo a qualquer um desses gêneros ou a todos ao mesmo tempo; tudo depende do tipo de problema que está sendo resolvido. A única definição explícita de paradigma, com efeito, que Kuhn apresenta é em função desses hábitos, conquanto os reúna a todos sob o nome de realização científica concreta. “Ciência normal”, diz ele [...], significa “pesquisa baseada numa ou em mais de uma realização científica passada, que alguma comunidade reconhece durante algum tempo como fornecedora dos fundamentos da sua prática ulterior”. Tais realizações (i) “suficientemente sem precedentes para atrair um grupo duradouro de adeptos, desviando-os de modos concorrentes de atividade científica”, e (ii) “suficientemente abertas para deixar todas as espécies de problemas ao grupo redefinido de profissionais a fim de que os resolvam. As realizações que partilharem das duas características chamarei, daqui por diante, paradigmas”. Assim, atribuindo o lugar central, na ciência real, a uma realização concreta em lugar de atribuí-lo a uma teoria abstrata, Kuhn, único entre os filósofos da ciência, coloca-se em condições de dissipar a preocupação que tanto aturde o cientista que trabalha ao defrontar-se pela primeira vez com a filosofia da ciência profissional: “Como poderei utilizar uma teoria que não existe?”

Fonte: Lakatos, I. & Musgrave, A. 1979 [1965]. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. SP, Cultrix & Edusp.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker