Filípica
Luciano Canfora
A rivalidade entre os dois centros [as bibliotecas de Alexandria e Pérgamo] teve consequências deletérias. Multidões de falsários entraram em cena. Ofereciam rolos de falsos textos antigos remendados ou até falsificados, que se hesitava recusar (quando a falsificação não era imediatamente visível), com o receio de que a biblioteca rival se aproveitasse disso. Não raro, tratava-se de hábeis manipulações, nas quais se misturavam o genuíno e o espúrio, não sem uma certa qualidade por parte dos solertes falsários.
Em Pérgamo, por exemplo, foi adquirida uma coleção completa de Demóstenes, aparentemente mais completa do que a reunida em Alexandria. Entre outras coisas, continha uma preciosidade: uma nova Filípica, que vinha preencher uma lacuna desagradável da coletânea corrente. [...]
O sucesso foi grande. Quem quisesse um Demóstenes recorria, desde então, à edição de Pérgamo, que afinal acabou permanecendo a canônica.
Fonte: Canfora, L. 1989. A biblioteca desaparecida. SP, Companhia das Letras.
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