Os usos do absurdo
Stanislav Andreski
Intimamente ligado a esta vantagem está o uso do absurdo e da confusão como escudos para proteger os detentores de autoridade que não gozam de nenhuma superioridade natural de talento ou conhecimento: pois o pensamento claro e lógico é como um jogo com regras definidas e verificáveis, em que qualquer sujeito maltrapilho pode desafiar e derrotar o Mestre, enquanto no reino da confusão e do absurdo não há regras do jogo que justifiquem a queda do Mestre e uma refutação d’O Que Ele Disse.
A confusão e o absurdo protegem a autoridade estabelecida de ser perturbada pelos efeitos de sua divergência em relação a uma classificação natural de talento e habilidade, tal como as roupas protegem uma hierarquia dos efeitos subversivos da nudez; pois no meio de uma multidão nua ninguém pode dizer quem é o marechal-de-campo ou o arcebispo.
Enquanto a autoridade inspirar reverência, a confusão e o absurdo reforçarão as tendências conservadoras na sociedade. Em primeiro lugar, porque o pensamento claro e lógico leva à acumulação do conhecimento (cujo melhor exemplo é dado pelo progresso das ciências naturais), e o avanço do conhecimento cedo ou tarde enfraquece a ordem tradicional. O pensamento confuso, por sua vez, não leva a lugar nenhum e pode ser tolerado indefinidamente sem produzir qualquer impacto no mundo. Em outras palavras, é intrinsecamente estático; e esta característica está ligada à sua capacidade de servir de cimento para agrupamentos sociais.
Fonte (terceiro parágrafo; em port.): Sokal, A. & Bricmont, J. 1999. Imposturas intelectuais. RJ, Record. Excerto de livro (aqui em tradução livre) originalmente publicado em 1972.
Fonte (terceiro parágrafo; em port.): Sokal, A. & Bricmont, J. 1999. Imposturas intelectuais. RJ, Record. Excerto de livro (aqui em tradução livre) originalmente publicado em 1972.
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