O poder e a glória
Graham Greene
Sem pensar no que fazia, ele bebeu mais um gole de conhaque. Quando o líquido lhe tocou a língua lembrou-se da filha, entrando com a luz às suas costas: o rosto embirrado, triste, inteligente. Exclamou: “Meu Deus, ajude-a. Condene-me, eu mereço, mas deixe-a viver para sempre.” Este era o amor que deveria ter sentido por todas as criaturas do mundo: todo o amor e o desejo de salvar concentrados injustamente naquela única criança. Começou a chorar; era como se tivesse que observá-la da praia se afogando lentamente porque ele se esquecera como nadar. Pensou: Isto é o que eu deveria sentir todo o tempo por todo o mundo...
Fonte: Wright, R. 1996 [1994]. O animal moral. RJ, Campus. Excerto de livro publicado em 1940.

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