O idealismo, a indiferença, a guerra
Edmund Wilson
Karl Marx, com sua moralidade rigorosa e seu ponto de vista internacionalista, havia tentado guiar a Vontade germânica primitiva em direção a um movimento que conduzisse toda a humanidade à prosperidade, felicidade e liberdade. Porém, na medida em que esse movimento envolve, sob o disfarce da Dialética, um princípio semidivinizado da História, ao qual é possível transferir a responsabilidade humana pelo pensamento, pelas decisões, pela ação – e vivemos no momento um período de decadência do marxismo –, ele se presta às repressões do tirano. A corrente original da velha Vontade germânica, que permaneceu na Alemanha e continuou a ser patriótica, foi canalizada e tornou-se a filosofia do imperialismo alemão, e por fim do movimento nazista. Tanto o ramo alemão como o russo jogaram fora tudo que havia de bom no cristianismo junto com o que havia de mau. O demiurgo do idealismo alemão jamais fora um Deus do amor, nem admitia as imperfeições humanas: não recomendava ao indivíduo ser humilde nem caridoso em relação ao próximo. Karl Marx, com sua severidade do Velho Testamento, nada fez no sentido de humanizá-lo. Ele desejava que toda humanidade se tornasse unida e feliz; porém adiou esse momento até que a síntese fosse atingida, e em relação ao momento presente não acreditava na fraternidade humana. Marx estava mais próximo do que imaginava daquela Alemanha imperialista que tanto detestava. Afinal, também os nazistas alemães – que se veem como agentes de uma missão histórica – acreditam que a humanidade será feliz e unida quando toda ela for ariana e submetida a Hitler.
Fonte: Wilson, E. 1987 [1940]. Rumo à Estação Finlândia. SP, Companhia das Letras.

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