Salpicar de estrelas o céu da tua boca
José Jorge Letria
Salpicar de estrelas o céu da tua boca
e ter-te branca e oblíqua na cama astral do meu desejo;
ser com vagar de artífice tudo o que quiseres que eu seja
ou apenas coisa nenhuma, tecelão de lumes
embasbacado à porta do teu corpo, entrelaçando os dedos
num desespero de vinho, numa sofreguidão de beijos;
deixar-me aprisionar pelas tenazes da noite, pelos
cárceres de um segredo irrevelado e por último
ser capaz de tudo o que julguei impossível; matar-me
com precisão de ave da ponte mais alta dos dias
em voo que me leve ao fundo do mistério das águas;
confundir-me contigo, romântico dos românticos,
como se entrasse no espelho da perdição total
com caligrafia de sonho e perfil de amante.
Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1989.
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