01 novembro 2006

Desenredo

Paulo César Pinheiro

Por toda terra que passo
me espanta tudo que vejo
A morte tece seu fio
de vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
o olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego eu me enredo
nas tranças do teu desejo

O mundo todo marcado
a ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
a morte é o fim do novelo
O olhar que assusta anda morto
o olhar que avisa anda aceso
Mas quando eu chego eu me perco
nas tramas do teu segredo

Ê Minas, ê Minas
é hora de partir, eu vou
vou-me embora pra bem longe

A cera da vela queimando
o homem fazendo seu preço
A morte que a vida anda armando
a vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
o olhar mais forte indefeso
Mas quando eu chego eu me enrosco
nas cordas do teu cabelo

Ê Minas, ê Minas
é hora de partir, eu vou
vou-me embora pra bem longe...

Fonte: álbum Renascer (1976), de Nana Caymmi.

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