O crespúculo sertanejo
Castro Alves
A tarde morria! Nas águas barrentas
As sombras das margens deitavam-se longas;
Na esguia atalaia das árvores secas
Ouvia-se um triste chorar de arapongas.
A tarde morria! Dos ramos, das lascas,
Das pedras, do líquen, das heras, dos cardos,
As trevas rasteiras com o ventre por terra
Saíam, quais negros, cruéis leopardos.
A tarde morria! Mais funda nas águas
Lavava-se a galha do escuro ingazeiro...
Ao fresco arrepio dos ventos cortantes
Em músico estalo rangia o coqueiro.
Sussurro profundo! Marulho gigante!
Talvez um – silêncio!... Talvez uma – orquestra...
Da folha, do cálix, das asas, do inseto...
Do átomo – à estrela... do verme – à floresta!...
As garças metiam o bico vermelho
Por baixo das asas, – da brisa ao açoite –;
E a terra na vaga de azul do infinito
Cobria a cabeça co'as penas da noite!
Somente por vezes, dos jungles das bordas
Dos golfos enormes daquela paragem,
Erguia a cabeça surpreso, inquieto,
Coberto de limos — um touro selvagem.
Então as marrecas, em torno boiando,
O vôo encurvavam medrosas, à toa...
E o tímido bando pedindo outras praias
Passava gritando por sobre a canoa!...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Fonte: Alves, C. 1990. Poemas, 8a edição. RJ, Agir. Poema originalmente publicado em livro póstumo, A cachoeira de Paulo Afonso, de1876.
1 Comentários:
Castro Alves lembra meu pai recitando pela sala, uma saudade...
gostei do blog,
grande abraço
Bárbara Lia
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