17 março 2007

Chão de giz

Zé Ramalho

Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas
Amiúde,
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão, é inútil
Pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar quem sabe
Uma camisa de força, ou de vênus
Mas não vão gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom

Agora pego um caminhão
Na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado
No seu calcanhar
Meus vinte anos de “boy”
“that’s over, baby” – Freud explica

Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom

Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular

No mais estou indo embora

Fonte: encarte que acompanha o LP do álbum Zé Ramalho (1978), de Zé Ramalho.

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