28 abril 2007

O leão e o ratinho

Monteiro Lobato

Ao sair do buraco, viu-se um ratinho entre as patas do leão. Estacou, de pêlos em pé, paralisado pelo terror. O leão, porém, não lhe fez mal nenhum.

– Segue em paz, ratinho; não tenhas medo de teu rei.

Dias depois, o leão caiu numa rede. Urrou desesperadamente, debateu-se, mas quanto mais se agitava mais preso no laço ficava.

Atraído pelos urros, apareceu o ratinho.

– Amor com amor se paga – disse lá consigo, e pôs-se a roer as cordas. Num instante consegui romper uma das malhas. E como a rede era das tais que rompida a primeira malha as outras se afrouxam, pôde o leão deslindar-se e fugir.

Mais vale paciência pequenina do que arrancos de leão.

– Isso é verdade – comentou Narizinho. Não há o que a paciência não consiga. Lá na cachoeira há um buraco na pedra feito por um célebre pingo dágua que cai, cai, cai há séculos.

– E há um ditado popular para esse pingo, ajudou Pedrinho: água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

– Quem fez os ditados populares, vovó?

– O povo, minha filha. Os homens vão observando certas coisas e por fim formam um ditado, ou rifão, ou provérbio, ou adágio, ou dito, no qual resumem o que observaram. Esse dito do pingo dágua que tanto dá até que fura é muito bom – bonitinho e certo.

Fonte: Bennett, W. J., org. 1997. O livro das virtudes para crianças. RJ, Nova Fronteira.

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