20 abril 2008

A viagem definitiva

Juan Ramón Jiménez

Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.

Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, com esta tarde está tocando,
Os sinos do campanário.

Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto de meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico...

E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido...
E os pássaros ficarão cantando.

Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira. Poema originalmente publicado em 1911.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Oi meu querido amigo, bela poesia. Boa para se ler e refletir neste feriado. Abração.

21/4/08 16:42  

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