05 dezembro 2008

ABC da relatividade

Bertrand Russell

Toda a gente sabe que Einstein fez algo de surpreendente, mas poucos são os que conhecem em rigor o que ele fez. Reconhece-se geralmente que ele revolucionou a nossa concepção do mundo físico, mas a verdade é que os novos conceitos estão envolvidos no tecnicismo das matemáticas. Sem dúvida, há inúmeras explicações populares sobre a teoria da relatividade, mas o certo é que, em geral, elas deixam de ser inteligíveis justamente quando começam a apresentar o que é importante. Dificilmente se podem culpar os seus autores. Muitas das novas idéias podem ser expressas em linguagem [não-matemática], mas não é por isso que deixam de ser difíceis. O que se torna necessário é uma alteração do nosso quadro imaginativo do mundo, quadro este que nos foi legado por remotos antepassados, talvez até pré-humanos, e que todos aprendemos logo no começo da infância. Qualquer mudança na nossa imaginação é sempre difícil, especialmente quando deixamos de ser jovens. Quando Copérnico ensinou que a Terra não era estacionária e que os céus não giram à sua volta uma vez por dia, exigiu-se o mesmo tipo de alteração. Actualmente, nenhum de nós encontra a mínima dificuldade nesta idéia, porque a aprendemos antes de os nossos hábitos mentais se terem fixado. Da mesma maneira, as idéias de Einstein hão-de parecer mais fáceis às gerações que cresceram com elas; todavia, para nós, torna-se inevitável um certo esforço de reconstrução imaginativa.
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Fonte: Russell, B. s/d [1925]. ABC da relatividade, 2ª edição. Lisboa, Publicações Europa-América.

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