O apelo
Jules Supervielle
Um apelo, um grito
Longínquo, abafado,
Quase imperceptível,
Erra no infinito
Coração da noite.
Do fundo da guerra,
Do fundo da França,
Expirando avança,
Desmaia, persiste,
Procura ganhar
Força e consistência
No espaço, procura
Com perseverança
Um apoio à beira
Do silêncio enorme.
Súbito me escolhe
E cala-se em mim.
Sirvo-lhe de abrigo,
Sirvo-lhe de leito,
Ajudo-o a acabar.
Como conseguiste,
Persistente apelo,
Passar o oceano,
Entrar no meu tempo,
Nele demorar?
De que lábio humano,
De que fundas trevas
Vens como expressão
De última vontade?
De que subterrâneo
Ou de que retiro
De lenta agonia
Até mim te elevas,
Lânguido suspiro,
Último suspiro?
Pequenino apelo
Quase a perecer,
Acabou-se a guerra,
A França renasce;
Poderás já agora
Ceder ao silêncio,
Deixar-te morrer.
Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira.
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