Desflorestamento: pausa para o lanche?
Felipe A. P. L. Costa
Negócios, mentiras e pilhagens andam juntos com bastante frequência. No caso de grandes negócios, parece haver uma lei: só prosperam – principalmente em países onde a acumulação de capital é recente – se forem sustentados por uma cadeia de atividades sujas e irregulares.
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Outra atividade econômica famosa pelos tentáculos sujos que ostenta é o chamado agronegócio – grandes empreendimentos agrícolas voltados basicamente para a exportação. Vejamos o caso da soja, uma leguminosa de pequeno porte, aparentemente frágil, mas cuja cultura é poderosa o suficiente para eleger prefeitos, deputados e até governadores – além de grilar terras e dizimar qualquer trecho de vegetação nativa que encontre pela frente.
Poucos anos atrás, a opinião pública brasileira foi informada sobre a cadeia de negócios irregulares e criminosos que sustentava boa parte da cultura da soja no país, particularmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Foi revelado, entre outras coisas, que o dinheiro que fazia a engrenagem do desflorestamento funcionar em boa parte da Amazônia provinha da indústria de alimento, incluindo fabricantes de óleo de cozinha e ração animal.
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Assim, em meados de 2006, as empresas afiliadas à Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais e à Associação Nacional dos Exportadores de Cereais divulgaram um comunicado conjunto sobre o assunto. [...]
A ‘moratória da soja’, como ficou conhecida, já foi estendida mais de uma vez, a última delas até julho de 2010. É preciso, no entanto, continuar de olhos abertos: nos últimos anos, mesmo com a moratória em vigor, surgiram denúncias de que algumas empresas estariam desrespeitando o acordo. No fim das contas, a pergunta que a indústria da soja precisa responder é bem simples: as empresas do setor vão mesmo trilhar o caminho da legalidade ou a moratória foi apenas uma ‘cortina de fumaça’ – uma pausa para o lanche, antes de voltar aos negócios sujos e irregulares de antes?
Fonte: Costa, F. A. P. L. 2010. Desflorestamento: pausa para o lanche? Ciência Hoje 270: 68-9. O sítio da revista está aqui.
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