Como a vida sem caderneta
Mário Cesariny
Como a vida sem caderneta
como a folha lisa da janela
como a cadela violeta
– ou a violenta cadela?
Como estar egípcio e mudado
no salão do navio de espelhos
como nunca ter embarcado
ou só ter embarcado com velhos
Como ter-te procurado tanto
que haja qualquer coisa quebrada
como percorrer uma estrada
com memórias a cada canto
Como os lábios prendem o copo
como o copo prende a tua mão
como se o nosso louco amor louco
estivesse cheio de razão
E como se a vida fosse o foco
de um baço lento projector
e nós dois ainda fôssemos pouco
para uma tempestade de cor
Um ao outro nos fôssemos pouco
meu amor meu amor meu amor
Fonte (estrofes 1-4): Melo e Castro, E. M. 1973. O próprio poético. SP, Quíron. Poema publicado em livro em 1956.
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