07 setembro 2010

Brasí Cabôco

Zé da Luz

O qui é Brasí Cabôco?

É um Brasí deferente
Do Brasí das capitá.
É um Brasí brasilêro,
Sem mistura de istrangêro,
Um Brasí nacioná!

É o Brasí qui não veste
Liforme de gazimira,
Camisa de peito duro,
Cum butuadura de ouro...
Brasí Cabôco só veste,
Camisa grossa de lista,
Carça de brim da ‘Polista’
Gibão e chapéu de couro!

Brasí Cabôco não come
Assentado nos banquete,
Misturado cum os hôme
De casáca e anelão...
Brasí Cabôco só come
O bode sêco, o feijão,
E as vêz uma paneláda,
Um pirão de carne verde,
Nos dias das inleição,
Quando vai servi de iscáda
Prôs hôme de pusição!

Brasí Cabôco não sabe
Falá ingrês nem francês,
Munto meno o purtuguês
Qui os outro fala imprestádo...
Brasí Cabôco não iscreve;
Munto má assína o nome
Prá votá, prumóde os hôme
Sê Gunverno e Diputado!

Mas porém, Brasí Cabôco,
É um Brasí brasilêro,
Sem mistura de istrangêro
Um Brasí nacioná!

É o Brasí sertanêjo
Dos côco, das imboláda,
Dos samba, dos rialêjo,
Zabumba e caracaxá!

É o Brasí das vaquêjáda,
Do abôio dos vaquêro,
Do arranco das boiáda
Nos fechado ou tabulêro!

É o Brasí das cabôca
Qui tem os óio feiticêro,
Qui tem a bôca incarnada,
Como fruta de cardêro
Quando ela náce alêjáda!

É o Brasí das promessa
Nas noite de São João!
Dos Carro-de-bôi cantando
Pela bôca dos cocão!

É o Brasí das cabôca
Qui cum sabença gunverna,
Vinte e cinco pá-de-birro
Cum a munfada entre as perna!

Brasí das briga de Galo!
Do jogo do ‘Sôco-tôco’!
É o Brasí dos cabôco
Amansadô de cavalo!

É o Brasí dos cantadô,
Desses cabôco afamado,
Qui nos verso impruvisado,
Sirrindo cantáro o amô;
Cantando choráro as mágua:
– Brasí de Pelino Guéde,
De Inácio da Catinguêra,
De Umbelino do Texêra
E Rumano da Mãe-d’água!

É o Brasí das cabôca,
Qui de noite se dibruça,
Machucando os peito virge
No batente das jinéla...
Vendo, os cabôco pachóla,
Qui geme, chora e salúça
Nas corda de uma vióla,
Ruendo paxão, prú éla!

É esse o Brasí Cabôco.
Um Brasí bem brasilêro,
Sem mistura de istrangêro
Um Brasía nacioná!

Brasí, qui foi, eu tou certo
Argum dia discuberto,
Prú Pêdo Arves Cabrá!!!

Fonte: Pinto, J. N. 2004. Os cem melhores poetas brasileiros do século, 2ª edição. SP, Geração Editorial. Poema publicado em livro (2ª edição) em 1949.


1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Este texto é muito bom, ja tinha lido no meu livro da escola e eu adorei.

31/7/14 14:31  

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