Bruxa velha malvada
Felipe A. P. L. Costa
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George [Williams] tinha um senso crítico (e autocrítico) bastante aguçado, mesmo para os padrões comumente elevados que esperamos encontrar entre os cientistas. Em 1992, por exemplo, a Quarterly Review of Biology publicou um artigo seu intitulado ‘Gaia, o culto à natureza e falácias biocêntricas’ [...]. O título inicial era ainda mais ácido e revelador: ‘A Mãe Natureza é uma bruxa velha malvada’ [‘Mother Nature is a wicked old witch’, no original]. [...]
Nesse artigo, ele critica certas noções defendidas por alguns segmentos do chamado movimento ambientalista. Um dos seus alvos foi a chamada hipótese Gaia, formulada originalmente pelo químico inglês James Lovelock (1919-), segundo a qual a biota da Terra se comportaria como um superorganismo capaz de gerar, manter e regular em escala planetária as condições propícias à manutenção da vida. Apesar de controversa, essa hipótese é defendida ainda hoje por alguns cientistas respeitáveis, como a bióloga estadunidense Lynn Margulis (1938-).
Diferentemente de outros cientistas, Williams não via a natureza como um lugar idílico e inspirador – ao menos não em termos éticos e morais. Afinal, o que vemos no mundo vivo é moldado pela seleção natural e a seleção natural é um processo impessoal, míope e oportunista, incapaz de planejar ou perdoar. Justamente por isso, nós não deveríamos tomar os produtos desse processo como exemplos ou fontes de inspiração para os princípios éticos ou morais que governam a vida humana em sociedade.
A seleção natural não irá nos conduzir ao ‘melhor dos mundos possíveis’. Esse ideal só poderá ser alcançado como fruto da inteligência e do trabalho humano. E é ainda ele quem nos adverte: se, ao longo da jornada, quisermos contrabalançar ou reverter tendências evolutivas indesejáveis, nós teremos de conhecer melhor o modo como a seleção natural opera.
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Fonte: Costa, F. A. P. L. 2010. A Mãe Natureza é uma bruxa velha malvada. Simbio-Logias 5: 56-74. PDF com o artigo completo pode ser encontrado e capturado aqui.
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