21 janeiro 2011

Descobertas múltiplas

Augustine Brannigan

Nenhuma observação singular deu mais impulso à sociologia e à antropologia da ciência do que a observação de que a história da descoberta científica é a história de descobertas múltiplas, independentes e simultâneas. Isto é, a história da ciência sugere que certas leis e fatos científicos têm sido repetidamente revelados por diferentes cientistas trabalhando independentemente, mais ou menos no mesmo período de tempo. Essa observação é o ponto central do famoso artigo de William F. Ogburn e Dorothy S. Thomas ‘Are inventions inevitable?’, que contém uma lista de 148 descobertas múltiplas e simultâneas nos campos da ‘antropologia, matemática, química, física, eletricidade, fisiologia, biologia, psicologia e invenções mecânicas práticas’.

Essas descobertas simultâneas são citadas como evidência de que as invenções e descobertas ocorrem em virtude do nível de desenvolvimento cultural atingido por uma sociedade. Se determinado descobridor falhar em revelar uma nova lei, a sociedade não ficará pior por isso, pois a história da ciência mostra que a lei virá à luz através do trabalho de outra pessoa quase na mesma época. Sendo assim, há “bastante evidência indicando que a acumulação ou o crescimento da cultura atinge um estágio em que certas invenções, se não são inevitáveis, são certamente muito prováveis, dado um nível determinado de habilidade mental”. Ao citar a mesma passagem, Lesley White omite a referência a ‘habilidade mental’. Para White, a questão da genialidade é totalmente redundante dentro de uma perspectiva cultural. As descobertas ocorrem independentemente do QI de indivíduos específicos e, de modo inevitável, em um ponto em que a cultura alcança certa ‘massa crítica’.
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Fonte: Brannigan, A. 1984 [1981]. A base social das descobertas científicas. RJ, Zahar.


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