A vingança de Cambises
Júlia Cortines
Disseram – diz o rei a Prexaspes – que o vinho
Sobe presto à cabeça em denso torvelinho
De vapores, e a febre, o delírio produz,
Que irradiam no olhar uma sinistra luz.
Ou, pouco a pouco, pelo organismo se entorna,
Qual onda de torpor, voluptuosa e morna?
Disseram; e tu tens a ousadia de vir
Em face de teu rei palavras repetir
De estultos, e afirmar que o vinho afrouxa braços
Que fazem, como os meus, os reinos em pedaços?
Ao contrário; verás; (e bêbado entesou
No arco a flecha) porém é preciso que aponte
Um alvo; – o coração de teu filho.
E atirou,
Da criança, que nele o doce olhar fitava,
– Olhar que o etéreo azul do infinito espelhava, –
Varando lado a lado o peito e o coração.
E o pai disse, curvando humildemente a fronte:
– “Nem de Apolo é mais firme e mais certeira a mão.”
Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1894.
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