18 junho 2011

Aprendendo o que é através do que não pode ser

Alan H. Guth

Quando Alice protestou em Através do espelho dizendo “ninguém pode acreditar em coisas impossíveis”, a Rainha Branca tentou corrigir sua afirmação. “Eu diria que você nunca praticou bastante”, ela disse. “Quando eu tinha a sua idade praticava sempre meia hora por dia. Às vezes me acontecia acreditar em mais de seis coisas impossíveis antes do café da manhã.”

Embora a ciência seja, a princípio, o estudo das coisas possíveis, o conselho da Rainha Branca deve estar sempre em mente. Ninguém entende ainda as leis da natureza em seu nível mais fundamental, mas a busca dessas leis tem sido tão fascinante quanto frutífera. A visão da realidade que está emergindo da física moderna é positivamente uma reminiscência de Lewis Carroll. Enquanto as idéias da física são tão lógicas quanto extremamente belas para as pessoas que as estudam, mostram-se completamente alheias a tudo que a maioria de nós chamaria de “bom senso”.

De todas as “impossibilidades” conhecidas pela ciência, provavelmente o conjunto de idéias mais impressionantemente impossível é o que conhecemos como teoria quântica. Essa teoria foi desenvolvida o início do século 19, porque ninguém podia encontrar outro modo de explicar o comportamento das moléculas e átomos. Um dos maiores físicos dos tempos modernos, Richard Feynman, relatou suas impressões sobre a teoria quântica em seu livro QED. “Não se trata de uma teoria ser filosoficamente prazerosa, fácil de entender ou perfeitamente razoável do ponto de vista do senso comum”, ele escreveu. A teoria quântica “descreve a natureza como absurda do ponto de vista do senso comum. E se presta perfeitamente ao experimento. Portanto, espero que você consiga aceitar a natureza como ela é – absurda. Eu me divertirei contando-lhes estes absurdos, pois os considero um deleite.”
[...]

Fonte: Brockman, J. & Matson, K., orgs. 1997. As coisas são assim. SP, Companhia das Letras.

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