O quark e o jaguar
Murray Gell-Mann
2.
O título deste livro vem de uma linha de um poema de meu amigo Arthur Sze, um esplêndido poeta sino-americano que vive em Santa Fé e que conheci por meio de sua esposa, a talentosa tecelã hopi Ramona Sakiestewa. A linha é: “O mundo do quark tem tudo em comum com um jaguar circulando na noite.”
Os quarks são partículas elementares, os tijolos básicos do núcleo atômico. Eu sou um dos dois teóricos que predisseram sua existência, e fui eu quem lhes deu o seu nome. No título, o quark simboliza as leis físicas simples e básicas que governam o universo e toda a matéria contida nele. Para muitas pessoas pode parecer que a palavra ‘simples’ não se aplica à física contemporânea; na verdade, explicar que ela realmente se aplica é um dos objetivos deste livro.
O jaguar representa a complexidade do mundo que nos cerca, especialmente como esta se manifesta nos sistemas adaptativos complexos. As imagens de Arthur do quark e do jaguar juntas me parecem refletir perfeitamente os dois aspectos da natureza que eu chamo o simples e o complexo: de um lado, as leis físicas subjacentes à matéria e ao universo e do outro o rico tecido do mundo que percebemos diretamente e do qual fazemos parte. Além disso, assim como o quark é um símbolo das leis físicas que, uma vez descobertas, surgem completas ante a mente analítica, assim é o jaguar, pelo menos para mim, uma possível metáfora para o ardiloso sistema adaptativo complexo, o qual continua a evitar um olhar analítico claro, embora seu odor pungente possa ser sentido nos arbustos.
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Fonte: Gell-Mann, M. 1996. O quark e o jaguar. RJ, Rocco.
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