Dor
Enrique González Martínez
O seu olhar varou-me a alma abismada,
Fundiu-se em mim, tão minha parecia,
Que não sei se este alento de agonia
É vida ainda ou morte alucinada.
Chegou o Arcanjo, desferiu a espada
Sobre o duplo laurel que florescia
No horto concluso... E desde aquele dia
Voltei, dentro das trevas, ao meu nada.
Julguei que o mundo, para o humano assombro,
Ia rolar de súbito no escombro
Da ruína total do firmamento...
Mas vi a terra em paz, em paz a altura,
O campo tão sereno, a linfa pura,
O monte azul e sossegado o vento!...
Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira. Poema publicado em livro em 1935.
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