Canção amarga
Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
– Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.
Agora, tu, só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.
Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.
Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
– Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!
Fonte: Mourão-Ferreira, D. 1980. Obra poética, vol. I. Lisboa. Bertrand.
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