08 novembro 2011

Desencanto

Júlio Salusse

A minha vida é a planta, que as procelas
sacudiram, torcendo-lhe a raiz...
Tive ambições e a mais ardente delas
foi a da glória – e a glória não me quis!

Vi, como sombras, poéticas donzelas,
sombras que se apagaram, como o giz...
Os sonhos meus eram batéis sem velas!
Perdi-os todos... Fui, talvez, feliz!

Sempre o destino olhei com tédio e medo,
pois vim ao mundo muito tarde ou cedo...
Rosas plantei e a flor do mal colhi!

Ainda que pudesse, eu não quisera
voltar à Mocidade, à primavera
de um tempo, que passou, mas não vivi!

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema datado de 1947.

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