A vida na Terra
David Attenborough
3.
Há poucos lugares no mundo mais desolados do que os arredores de um vulcão após sua erupção. Torrentes de lava negra recobrem as vertentes, como a escória de uma fornalha. A atividade vulcânica já cessou mas a lava, arrefecendo, ainda crepita estalando seixos. Vapor sulfuroso sibila por entre as frestas, delineando as crateras com enxofre amarelo. Bacias de lama espessa, cinzentas, amarelas ou azuis borbulham aquecidas pelo calor decrescente das camadas mais profundas. O resto é silêncio. Nenhum arbusto oferece abrigo contra o vento sibilante; nem mesmo uma pequena mancha verde ameniza a superfície negra e árida das planícies de cinza vulcânica.
Durante a maior parte de sua história, a Terra apresentou essa paisagem inóspita. Na fase de resfriamento da crosta terrestre, a atividade vulcânica era muito intensa, numa escala inimaginável atualmente, formando cordilheiras de lava e cinza. Durante milênios essas montanhas, expostas à ação erosiva constante do vento e da chuva, se desfizeram em argila e lama e foram levadas, partícula por partícula, para além dos limites da terra e depositadas no fundo do mar. Aí, os sedimentos acumularam-se lentamente, formando camadas compactas de arenito e xisto argiloso. Os continentes de então não eram estacionários: deslocavam-se vagarosamente sobre a superfície da Terra, movidos pelas correntes subterrâneas de convecção. Quando duas placas continentais colidiam, os depósitos sedimentários que as circundavam eram comprimidos e elevados, dando origem a novas cadeias de montanhas. Durante 3 bilhões de anos, enquanto os ciclos geológicos se repetiam e os vulcões entravam em erupção e se extinguiam, a vida nos mares se manifestou em diversas formas; mas a terra firme ainda permanecia estéril.
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Fonte: Attenborough, D. 1982. A vida na Terra. SP & Brasília, Martins Fontes & Editora UnB.
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