O carvão e o diamante
Hermes Fontes
Teceis, Senhor, de insólitos contrastes,
a matéria que jaz e a essência que erra.
Foi das classes humílimas da Terra
que o vosso filho e intérprete tirastes.
Fizestes, lado a lado, o abismo e a serra...
E aos astros, nos seus rútilos engastes,
destes a luz eterna, e os distanciastes
lá longe, como a alguém que se desterra!
No carvão escondestes o diamante.
E ocultastes as pérolas, sob a água,
e os oásis, sob a areia transitória,
E foi à alma de um negro agonizante
que houvestes a mais pura flor da Mágoa
e a dor mais alta pelo Amor e a Glória!
Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 6. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1922, com a dedicatória “Pensando em Cruz e Souza”.
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