02 novembro 2012

O segredo de Jasper Jones

Craig Silvey

1.
Jasper Jones veio até a minha janela.

Não sei por que, mas veio. Talvez esteja enrascado. Talvez não tenha outro lugar aonde ir.

De qualquer maneira, ele simplesmente me deixou borrado de medo.

Este é o verão mais quente de que consigo me lembrar, e o calor espesso parece penetrar e permanecer no meu quarto. É como se o centro da Terra fosse aqui. O único alívio é o ar mais frio que se infiltra por entre as ripas finas da minha única janela. É quase impossível dormir, portanto passei a maior parte das minhas noites lendo à luz do meu lampião a querosene.

Hoje não foi diferente. E, quando Jasper Jones bateu abruptamente nas ripas com o nó do dedo e sussurrou meu nome, pulei da cama, derrubando meu exemplar de Pudd’nhead Wilson.

– Charlie! Charlie!

Ajoelhei-me como um corredor, alerta e temeroso.

– Quem é?

– Charlie! Venha aqui fora!

– Quem é?

– É o Jasper!

– O quê? Quem?

– Jasper. Jasper! – Ele pressionou o rosto na direção da luz. Os olhos eram verdes e selvagens. Franzi o cenho.

– O quê? Sério? O que é?

– Preciso da sua ajuda. Venha aqui fora e eu explico – sussurrou ele.

– O quê? Por quê?

– Jesus Cristo, Charlie! Depressa! Venha aqui fora.

E, assim, aqui está ele.

Jasper Jones está à minha janela.

Tremendo, subo na cama e removo as ripas de vidro empoeirado, empilhando-as sobre o travesseiro. Rapidamente, enfio uma calça jeans e apago o lampião com um sopro. Ao me espremer para fora do quarto, a cabeça primeiro, algo invisível puxa minhas pernas. É a primeira vez que ouso sair escondido de casa. A emoção, junto ao fato de que Jasper Jones precisa da minha ajuda, já faz desse momento algo maravilhoso.
[...]

Fonte: Silvey, C. 2012 [2009]. O segredo de Jasper Jones. RJ, Intrínseca.

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