29 dezembro 2012

Canto do afogado

Bueno de Rivera

O que fui, as águas não devolvem.
No sumidouro me perdi.

Os amigos procuram um corpo entre as sarças.
Trazem roupas de banho, redes novas,
escafandros no bolso. Eles não sabem
que o afogado sonha entre as anêmonas.

O pássaro entende os caminhos do mar,
o galo da manhã conhece a estrela,
mas vós, amigos, ignorais a face
imóvel sob as águas.

Ó cordeiros da infância,
no olho do peixe está a origem.

Fonte: Rivera, B. 2003. Melhores poemas de Bueno de Rivera. SP, Global. Poema publicado em livro em 1948.

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