Destreza manual
John Napier
Os tibetanos têm um
aforismo – “Cuidado com os demônios à tua mão esquerda” – que é comum a todas
as raças e a todos os credos sob uma ou outra forma. Na maioria dos grupos
culturais, a mão esquerda é considerada impura e imprestável. Nos países do
Oriente Médio e Norte de África, o ritual das refeições feitas somente com a
mão direita é observado rigorosamente nos círculos ortodoxos; procedimento um
tanto incômodo, na maioria das vezes, mas, levando tudo em conta, provavelmente
higiênico, dado que a mão esquerda é a mais freqüentemente usada para fins de
asseio íntimo. Apesar das rigorosas recomendações acerca de lavagens, a mão
esquerda deve ser sempre conspurcada, filosoficamente, quando não
bacteriologicamente, pelas tarefas excrementícias que é chamada a executar.
Na língua inglesa,
as próprias palavras left (esquerda)
e right (direita) contêm seu próprio
louvor ou detração, conforme o caso. A direita implica correção e decoro, a
esquerda, em seu sentido primário, significa fraco e imprestável. Muitas
palavras derivadas, como righteous
(reto, íntegro) e dextrous (destro,
sagaz), gauche (canhestro, inepto) e sinister (sinistro, funesto, malvado)
retêm seu significado etimológico original – destreza e bondade versus incompetência e maldade. A
política, é claro, constitui caso especial, embora haja quem não admita a
distinção. Segundo H. L. Mencken, o uso de esquerda e direita na política teve
origem nos lugares onde se sentavam os membros da Assembléia francesa em 1789;
os conservados de nobre estirpe tomavam assento à direita do presidente, os
membros revolucionários do Terceiro Estado à sua esquerda, e os moderados no
centro.
[...]
Fonte: Napier, J.
1983 [1980]. A mão do homem. RJ &
Brasília, Zahar & Editora da UnB.
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