29 janeiro 2013

Como a fumaça mata?

Stephen Budiansky

O fogo no quarto 404 começou como tantos outros incêndios, um cigarro ateando fogo numa cadeira estofada. Os ocupantes do quarto escaparam sem ferimentos, mas doze outros hóspedes do Westchase Hilton Hotel, de Houston, morreram aquela noite em conseqüência do incêndio, embora as chamas de modo algum tivessem ido além do quarto 404. Como quase seis mil americanos que morrem a cada ano devido a incêndios, eles foram vítimas da fumaça, não do fogo.

Na verdade, oitenta por cento das mortes em incêndio são resultado de inalação de fumaça, mas os pesquisadores têm muitas perguntas a fazer sobre o que existe na fumaça que mata. “Não sabemos até hoje e nunca saberemos o que foi, na verdade, que matou todas aquelas pessoas em Houston”, diz Gordon Vickery, ex-chefe do Corpo de Bombeiros dos Estados Unidos e presidente da Fundação de Segurança Contra o Fogo, com sede em Arlington, Virgínia.

O mistério é que o monóxido de carbono, o suposto vilão, não o é neste caso. Pelo menos, não sozinho. O monóxido de carbono é um gás inodoro e incolor que se desprende de quase tudo que queima; quando inalado, combina-se com a hemoglobina do sangue, evitando que esta transporte o oxigênio vital às células do corpo. No incêndio de Houston, apenas duas das doze vítimas receberam algo próximo a doses letais de monóxido de carbono no sangue. Alguma outra coisa contribuiu para as mortes.

Um dos suspeitos é o ácido cianídrico, mais conhecido como o elemento mortal das câmaras de gás. O ácido cianídrico é produzido quando materiais que contêm nitrogênio, tais como lã – ou modernos materiais de construção tais como poliuretano e náilon – queimam. Uma investigação do incêndio de Houston pela Fundação de Segurança Contra o Fogo associou a presença de cianeto nas veias das vítimas aos tapetes de náilon e cobertores, ao carpete à base de poliuretano e às almofadas das cadeiras. Embora os níveis de cianeto estivessem acima do normal em todas as vítimas de Houston, os mesmos chegaram a níveis claramente letais em apenas duas das vítimas, ambas crianças.

Um outro suspeito – na realidade suspeito de cumplicidade – é o ácido hidroclorídrico emitido pela combustão do vinil. Quando inalado, este ácido muito forte corrói os tecidos dos pulmões e da garganta. Pode ser que os efeitos combinados desses dois gases e possivelmente de outras substâncias, não tão bem identificadas, fossem os reais causadores dessas mortes por inalação de fumaça.
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Fonte: Leigh, J. & Savold, D., orgs. 1991 [1988]. O dia em que o raio correu atrás da dona-de-casa... e outros mistérios da ciência. SP, Nobel.

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