O centauro no jardim
Moacir Scliar
Agora é sem galope. Agora está tudo bem.
Somos, agora, iguais
a todos. Já não chamamos a atenção de ninguém. Passou a época em que éramos considerados
esquisitos – porque nunca íamos à praia, porque a Tita, minha mulher, andava
sempre de calças compridas. Esquisitos, nós? Não. Na semana passada veio
procurar a Tita o feiticeiro Peri, e, aquele sim, era um homem esquisito – um bugre
pequeno e magro, de barbicha rala, usando anéis e colares, empunhando um cajado
e falando uma língua arrevesada. Talvez pareça inusitado uma criatura tão
estranha ter vindo nos procurar; contudo, qualquer um é livre para tocar
campainhas. E, mesmo, quem está vestido esquisito era ele, não nós. Nós? Não.
Nós temos uma aparência absolutamente normal.
[...]
Fonte: Scliar, M. 2008 [1980]. O centauro no jardim, 4ª reimpressão. SP, Claro Enigma.
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