15 dezembro 2013

Amorfófala

B. Lopes 

Nenúfar venenoso, ermo e visguento,
Aberto em concha ao turbilhão iriado
Dos insetos, que voam no ar parado
De um tenebroso lago pestilento;

Flor dominando um pântano folhento
De algas, musgos e lodo fermentado;
Flor, que tem na pureza escancarado
O seio branco para o firmamento;

Cheia do pólen rescendente e ativo,
Tão à falena e ao colibri nocivo,
E que é das vespas causa de outros males...

Pois que ao lótus amargo te assemelhas,
Eu terei de morrer, como as abelhas,
Intoxicado dentro do teu cálix.

Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista edecadente brasileira. SP, Ibep. Poema publicado em livro em 1895.

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