O mau humor do riso
Cyro Siqueira
Naqueles tempos, mais ou
menos 40 anos atrás, também mais ou menos heróicos, meus contatos com Celius
Aulicus – Gomes Jardim – eram muito rápidos e superficiais, mas sempre
cordiais. Fui conhecê-lo melhor durante uma dessas viagens doidas que, na
época, jornalistas faziam. Estimulado pelos ventos amáveis da Época JK, um
grupo de jornalistas mineiros arranjou recursos para participar de um encontro
da classe, que seria realizado na Finlândia, especificamente em Helsinque,
capital daquele país, mais especificamente em Otaniemi, um balneário à margem do
Mar Báltico. Corria o ano de 1956, éramos cinco ou seis jornalistas mineiros.
Geraldo Ribas, Juraceí de Barros Gomes, Wander Moreira, Celius Aulicus, Délcio
Monteiro de Lima – e o degas aqui.
O dinheiro de cada um de
nós era pouco. O dinheiro do Celius era pouquíssimo. O avião da travessia
atlântica, naturalmente Panair, naturalmente de hélice, barulhento. Na
travessia atlântica, Celius, que já era meio surdo, ficou mais surdo. Sua
situação se complicou porque o avião da Panair iria nos deixar, como nos
deixou, em Roma, onde passamos todo um dia à espera da conexão, avião
escandinavo, para Helsinque. Em Roma, Celius teve, no que eu percebi das
coisas, duas decepções. A primeira, de natureza pragmática, monetária. Uma de
suas irmãs estava morando temporariamente em Roma, casada com um político
brasileiro em missão comercial. Celius achou que ela iria melhorar seu caixa,
quer dizer, suas parcas reservas de dinheiro. De fato ela ajudou, mas,
mineiramente, com muito pouco.
A segunda decepção de
Celius foi de ordem ideológica. Ao sairmos do Brasil, o Diário de Notícias havia publicado o hoje famoso Relatório Kruchov
sobre os crimes de Stalin, o famoso relatório do 20º Congresso do Partido
Comunista. Aqui na pátria, o relatório foi logo impugnado pelo Partido Comunista
Brasileiro – ao qual Celius era afiliado – e por sua ‘linha auxiliar’, como embuste montado pelo imperialismo ianque.
Em Roma, até as livrarias
mais radicalmente socialistas vendiam avulsos do referido relatório.
[...]
Fonte: Rabêlo, J. M.
1997. Binômio: edição histórica. BH,
Armazém de Idéias & Barlavento Grupo Editorial.
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