09 junho 2014

Floresça, fale, cante, ouça-se, e viva

António Ferreira

Floresça, fale, cante, ouça-se, e viva
A Portuguesa língua, e já onde for
Senhora vá de si soberba, e altiva.

Se até aqui esteve baixa, e sem louvor,
Culpa é dos que a mal exercitaram:
Esquecimento nosso, e desamor.

Mas tu farás, que os que a mal julgaram
E ainda as estranhas línguas mais desejam,
Confessem cedo ante ela quanto erraram,

E os que depois de nós vierem, vejam
Quanto se trabalhou por seu proveito,
Porque eles para os outros assim sejam.

Se me enganei, se tive mau respeito
Andrade, tu o julga: mas espero
De te ser este meu desejo aceito.

E enquanto mais não peço, isto só quero.

Fonte (dois primeiros tercetos): Martins, W. 1977. História da inteligência brasileira, vol. 1. SP, Cultrix & Edusp. O trecho acima integra uma obra mais extensa – publicada em livro em 1598 –, correspondendo ao final da ‘Carta III: A Pero d’Andrade Caminha’.

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