A dança dos despossuídos
Frederick W. Turner
Na história do Novo Mundo
não há um único aspecto mais conhecido e menos compreendido do que o último e
breve episódio rapidamente mencionado nas páginas precedentes. Disfarçado com
nomes como ‘A conquista do Oeste’ e ‘Vaqueiros e índios’, esse golpe final da
história ocidental tem a mesma popularidade na América Latina (onde as terras
selvagens e os nativos ainda estão sendo afetados pelas antigas motivações) e
no Quartier Latin de Paris, onde se podem comprar enormes chapéus de vaqueiro,
cordas de amarrar gado e botas de vaqueiro feitas com couro sintético do
Oriente. Essa popularidade se deve em parte a uma documentação vasta e variada,
pois no caso do Oeste norte-americano não foram apenas exploradores,
comerciantes e viajantes casuais que deixaram seus testemunhos pessoais. Nos
últimos anos das terras selvagens da América do Norte houve uma legião de
jornalistas (repórteres e artistas), pintores, fotógrafos itinerantes e também
publicistas, antropólogos e historiadores excursionando pelo Oeste, que quase
todos consideravam condenado à extinção. Eles deixaram registros consumidos por
uma platéia cada vez maior. Nos Estados Unidos a platéia continua a crescer
ainda hoje e continua tão crédula quanto sempre em relação a ficções sobre a
vitória e os adversários derrotados. Poucos compreendem ou se importam com o
fato de que esse episódio final é na realidade um retrato da civilização
ocidental, tão irônico quanto trágico. Reagindo à sua desapropriação
espiritual, as tribos derrotadas das Grandes Planícies recapitularam as origens
daquela religião agora falida à qual os desapropriadores prestaram suas vãs
homenagens, chegando a colocar as últimas vítimas nativas na igreja de uma
reserva e a enterrá-las num cemitério santificado.
[...]
Fonte: Turner, F. 1990 [1980]. O espírito ocidental contra a natureza. RJ,
Campus.
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