25 maio 2014

A dança dos despossuídos

Frederick W. Turner

Na história do Novo Mundo não há um único aspecto mais conhecido e menos compreendido do que o último e breve episódio rapidamente mencionado nas páginas precedentes. Disfarçado com nomes como ‘A conquista do Oeste’ e ‘Vaqueiros e índios’, esse golpe final da história ocidental tem a mesma popularidade na América Latina (onde as terras selvagens e os nativos ainda estão sendo afetados pelas antigas motivações) e no Quartier Latin de Paris, onde se podem comprar enormes chapéus de vaqueiro, cordas de amarrar gado e botas de vaqueiro feitas com couro sintético do Oriente. Essa popularidade se deve em parte a uma documentação vasta e variada, pois no caso do Oeste norte-americano não foram apenas exploradores, comerciantes e viajantes casuais que deixaram seus testemunhos pessoais. Nos últimos anos das terras selvagens da América do Norte houve uma legião de jornalistas (repórteres e artistas), pintores, fotógrafos itinerantes e também publicistas, antropólogos e historiadores excursionando pelo Oeste, que quase todos consideravam condenado à extinção. Eles deixaram registros consumidos por uma platéia cada vez maior. Nos Estados Unidos a platéia continua a crescer ainda hoje e continua tão crédula quanto sempre em relação a ficções sobre a vitória e os adversários derrotados. Poucos compreendem ou se importam com o fato de que esse episódio final é na realidade um retrato da civilização ocidental, tão irônico quanto trágico. Reagindo à sua desapropriação espiritual, as tribos derrotadas das Grandes Planícies recapitularam as origens daquela religião agora falida à qual os desapropriadores prestaram suas vãs homenagens, chegando a colocar as últimas vítimas nativas na igreja de uma reserva e a enterrá-las num cemitério santificado.
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Fonte: Turner, F. 1990 [1980]. O espírito ocidental contra a natureza. RJ, Campus.

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