05 junho 2014

Porlamar

Fernando Ferreira de Loanda

Baixo às profundas
abissais da palavra:
colho-a como um ovo
entre as algas, como
uma pêra na geladeira,
como um peixe roubado
à voracidade de outro,
como um pato abatido
no pântano, como areia
fina, na barra, a fugir
entre meus dedos.
Como-a
com uma pitada de sal.
Se de veias, sangro-a;
pétrea, sob o cinzel,
dirá o que direi, nua,
gelada e engalanada,
confiante e confidente.

Busco-a a madrugar,
mastim, de tocaia,
como se colhesse amoras
temendo as silvas.

Fonte: Pinto, J. N. 2004. Os cem melhores poetas brasileiros do século, 2ª edição. SP, Geração Editorial. Poema publicado em livro em 1991.

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