O senso comum e a ciência
Rubem Alves
O que é que as pessoas
comuns pensam quando as palavras ciência ou cientista são mencionadas? Faça
você mesmo um exercício. Feche os olhos e veja que imagens vêm à sua mente.
As imagens mais comuns
são as seguintes:
+ o gênio louco, que
inventa coisas fantásticas;
+ o tipo excêntrico,
ex-cêntrico, fora do centro, manso, distraído;
+ o indivíduo que pensa
o tempo todo sobre fórmulas incompreensíveis ao comum dos mortais;
+ alguém que fala com
autoridade, que sabe sobre o que está falando, a quem os outros devem ouvir
e... obedecer.
Veja as imagens da
ciência e do cientista que aparecem na televisão. Os agentes de propaganda não
são bobos. Se eles usam tais imagens é porque eles sabem que elas são
eficientes para desencadear decisões e comportamentos. É o que foi dito antes:
cientista tem autoridade, sabe sobre o que está falando e os outros devem
ouvi-lo e obedecê-lo. Daí que imagem de ciência e cientista pode e é usada para
vender cigarro. Veja, por exemplo, os novos tipos de cigarros produzidos cientificamente. E os
laboratórios, microscópios e cientistas de aventais brancos enchem os olhos e a
cabeça dos telespectadores. E há cientistas que anunciam pasta de dente,
remédios para caspa, varizes e assim por diante.
[...]
Fonte: Alves, R. 1981. Filosofia da ciência. SP, Brasiliense.
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