11 junho 2014

O senso comum e a ciência

Rubem Alves

O que é que as pessoas comuns pensam quando as palavras ciência ou cientista são mencionadas? Faça você mesmo um exercício. Feche os olhos e veja que imagens vêm à sua mente.

As imagens mais comuns são as seguintes:
+ o gênio louco, que inventa coisas fantásticas;
+ o tipo excêntrico, ex-cêntrico, fora do centro, manso, distraído;
+ o indivíduo que pensa o tempo todo sobre fórmulas incompreensíveis ao comum dos mortais;
+ alguém que fala com autoridade, que sabe sobre o que está falando, a quem os outros devem ouvir e... obedecer.

Veja as imagens da ciência e do cientista que aparecem na televisão. Os agentes de propaganda não são bobos. Se eles usam tais imagens é porque eles sabem que elas são eficientes para desencadear decisões e comportamentos. É o que foi dito antes: cientista tem autoridade, sabe sobre o que está falando e os outros devem ouvi-lo e obedecê-lo. Daí que imagem de ciência e cientista pode e é usada para vender cigarro. Veja, por exemplo, os novos tipos de cigarros produzidos cientificamente. E os laboratórios, microscópios e cientistas de aventais brancos enchem os olhos e a cabeça dos telespectadores. E há cientistas que anunciam pasta de dente, remédios para caspa, varizes e assim por diante.
[...]

Fonte: Alves, R. 1981. Filosofia da ciência. SP, Brasiliense.

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