Aspectos comparativos do comportamento
N. Blurton Jones
Nos últimos anos, vários
livros de divulgação, e um ou dois trabalhos sérios (por exemplo, Bowlby, 1969),
têm feito analogias entre o comportamento humano e animal. Muita controvérsia
foi gerada por estas comparações. A verdade, no entanto, deve estar em algum
ponto entre a certeza dos zoólogos, de que é possível fazer comparações
válidas, e a certeza dos sociólogos, de que não é possível fazer qualquer
comparação válida. Conseqüentemente, talvez a aplicação de estudos comparativos
ao estudo do comportamento humano possa ser avaliada, desde que se adote uma
atitude relativamente livre de comprometimento, em relação à predominância, seja
de comportamentos específicos da espécie, seja de ‘fatos sociais’ independentes
de fatos biológicos (uma discussão útil das dificuldades desta dicotomia pode
ser encontrada em Freeman [1966]). Ambrose (1968) já havia descrito um uso
diferente de estudos com animais, para fazer progredir os conceitos e a metodologia
de estudos sobre desenvolvimento de comportamento. Dados obtidos com animais
também podem ser utilizados para sugerir hipóteses acerca do comportamento, ou
para sugerir fenômenos ou mecanismos a serem investigados no homem. Uma outra
vantagem do ponto de vista comparativo, ou pelo menos do interesse nos efeitos
e no valor de sobrevivência do comportamento, que acompanha este ponto de
vista, é entender as tarefas que a máquina estudada tem a desempenhar. O
desenvolvimento do comportamento de uma criança é um assunto amplo e difícil,
um sistema enorme para analisar. No entanto, se soubermos quais as suas
funções, a tarefa de descobrir como elas são efetuadas pode ser muito mais
fácil. Freedman (1967) e Fox e Tiger (1966), entre outros, argumentam que a perspectiva
[evolutiva] tem outras contribuições importantes.
Como zoólogo, envolvido
em estudos diretos de comportamento humano (e que, nesta medida, vê as coisas
do ponto de vista do psicólogo), espero poder mostrar, através de um pequeno
estudo, os princípios subjacentes a estudos comparativos. Estes princípios nem
sempre estão claros nos livros recentes de divulgação. Investiguei um problema
particular que pode ser importante para estudos sobre o apego mãe-bebê. Devo
enfatizar que o método utilizado é inteiramente diferente do método etológico
utilizado na maioria dos outros estudos descritos neste livro.
[...]
Fonte: Blurton Jones, N. 1981 [1972]. Aspectos comparativos do contato mãe-criança. In: N. Blurton
Jones, ed. Estudos etológicos do
comportamento da criança. SP, Pioneira.
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