Genes e sistemas epigenéticos
Eva Jablonka & Marion J. Lamb
Antes de examinarmos a
inter-relação entre genes e sistemas epigenéticos, precisamos recapitular
algumas das considerações que tecemos nos capítulos anteriores sobre os genes e
suas atividades. A mais importante delas é que as moléculas de DNA não são
guardadas nuas dentro da célula. Elas estão associadas a muitos tipos
diferentes de proteínas e moléculas de RNA, que formam um complexo conhecido
como cromatina. Além disso, o próprio DNA pode ter alguns agrupamentos químicos
(como metilas) grudados em algumas de suas bases. Essas modificações no DNA e
nos componentes da cromatina influenciam a expressão gênica: genes inativos
costumam ter uma cromatina mais compacta do que os genes ativos ou
potencialmente ativos. Após a replicação do DNA, as marcas epigenéticas – os
radicais de metila e as partes da cromatina que não são DNA e que afetam a a
atividade do gene – são reconstruídas, a menos que a célula responda a sinais
externos ou internos que alterem seu estado funcional.
Agora é preciso
acrescentar uma coisa importante a esse quadro: as marcas epigenéticas afetam
não apenas a atividade de um gene como também a probabilidade de aquela região
passar por mudanças genéticas. Mutações, recombinações e o movimento dos genes
saltadores são todos processos influenciados pelo estado da cromatina, por isso
a probabilidade de uma mudança genética em dois trechos idênticos de DNA não é
a mesma se eles tiverem diferentes marcações de cromatina. Em geral o DNA tem
mais probabilidade de sofrer alterações em regiões em que a cromatina é menos
condensada e os genes são ativos do que em regiões de cromatina mais compacta.
Isso porque em regiões mais ativas o DNA fica mais exposto à ação de substâncias
mutagênicas e de enzimas envolvidas no reparo e na recombinação. Não é
diferente do que acontece com o seu carro, que fica mais exposto a danos
acidentais quando você sai muito com ele do que quando você o deixa na garagem
o tempo todo. Há exceções, é claro. Assim como baterias arriadas são mais
comuns em carros que ficam muito tempo parados, também alguns tipos de mudança
no DNA são mais comuns em genes inativos. Por exemplo, a base citosina (C) muda
para timina (T) com mais frequência quando está metilada do que quando não
está, e o DNA metilado em geral está associado a cromatina compacta e genes
inativos. Mesmo assim, o quadro geral [...] é que o DNA das regiões ativas
tende a mudar mais do que o dos domínios inativos.
[...]
Fonte: Jablonka, E. &
Lamb, M. L. 2010. Evolução em quatro
dimensões. SP, Companhia das Letras.
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